sexta-feira, 3 de abril de 2009

Oscar Niemeyer: o inveterado sonhador de 101 anos presenteia Minas Gerais com mais uma obra de genialidade.




Em 1897 foi inaugurado o novo Centro Administrativo de Minas Gerais. Juntamente com a nova capital, transferiu-se de Vila Rica (atual Ouro Preto) para Belo Horizonte toda a estrutura administrativa do Estado. A Praça da Liberdade foi construída de forma a abarcar as diversas ramificações do poder político-administrativo mineiro. Belo Horizonte foi planejada como símbolo do progresso e da República, respondendo, assim, aos anseios da Modernidade.
Hoje presenciamos um novo momento de mudança: o processo de construção e transferência do Centro Administrativo para o Serra Verde. Não há quem não desvie o olhar da Linha Verde por alguns instantes a fim de observar as obras e admirar-se com suas formas arredondadas e surpreendentes. O projeto é assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer que deixa mais uma vez sua marca no cenário e História mineira.
Niemeyer revolucionou a arquitetura mundial e tudo começou por aqui. Em 1943, inaugurou o Conjunto Arquitetônico da Pampulha durante o Governo JK. Mais tarde, essa dupla surpreenderia o mundo com a construção de Brasília. Aos 101 anos de idade, Niemeyer demonstra que continua criativo, ousado, moderno e polêmico.
Normalmente aprende-se mais sobre os mortos do que sobre os vivos. Basta falecer para ser biografado, estudado, homenageado, virar filme e livro. Niemeyer é um personagem histórico tão marcante que já passou por tudo isso e ainda está na ativa, criando e fazendo História.
Suas qualidades profissionais são incontestáveis e já bastante conhecidas. Porém, o que mais me fascina são suas idéias (algumas vezes polêmicas!), sua personalidade, sua trajetória de vida.
Nada melhor do que suas próprias palavras para retratar um homem. Diante das comemorações do seu centenário, Niemeyer disse: “Cem anos é uma bobagem. Depois dos 70 a gente começa a se despedir dos amigos. O que vale é a vida inteira, cada minuto também, e acho que passei bem por ela.” Certamente que sim, Oscar!
Ao ser tão bajulado por suas criações, afirma que “mais importante que a arquitetura é estar ligado ao mundo. É ter solidariedade com os mais fracos, revoltar-se contra a injustiça, indignar-se com a miséria”. “O essencial é o bom comportamento do homem diante da vida”.
Niemeyer sempre denunciou as injustiças sociais e foi perseguido por isso. Em 1965, demitiu-se da Universidade de Brasília juntamente com outros professores em protesto à política da Ditadura Militar. Sofreu retaliações, teve seus projetos recusados e sua clientela desapareceu. Precisou sair do país para continuar trabalhando e só retornou com a Abertura Política na década de 80.
Nunca escondeu suas convicções: “Nunca me calei. Nunca escondi minha posição de comunista. Os mais compreensíveis que me convocam como arquiteto sabem da minha posição ideológica. Pensam que sou um equivocado e eu penso a mesma coisa deles. Não permito que ideologia alguma interfira em minhas amizades.”
Aposentar? Nem pensar. Ele não pára nunca... Afinal, “como explicar que cruzar os braços é um problema e que a vida dura só um minuto?” Para ele, “A vida é um sopro.” Um sopro de genialidade e solidariedade.
Acredita que “nossa passagem pela vida é rápida. Cada um vem, conta sua história, vai embora e depois ela será apagada para sempre. A vida continua.” Desta vez sou abrigada a contestá-lo, Oscar!
Alguns deixam marcas que não se apagam tão facilmente. O novo Centro Administrativo de Minas Gerais será uma dentre tantas marcas que Oscar Niemeyer nos deixará. Uma obra que nasce Moderna assim como o Centro Administrativo de 1897 o foi em sua época. Seu idealizador é um homem que sabe que “a gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem.” Obrigado, Oscar, por nos escolher como cenário para mais esse sonho...

“Não é o ângulo reto que me atrai
Nem a linha reta, dura, inflexível
Criada pelo Homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual.
A curva que encontro nas montanhas do meu país
No curso sinuoso dos rios
Nas ondas do mar, nas nuvens do céu
No corpo da mulher preferida
De curvas é feito todo o Universo
O Universo curvo de Einstein”
Oscar Niemeyer


Autora: Ana Paula A. Marchesotti