quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Reencontros com nosso passado provocam grande emoção!!!



A grande polêmica quanto ao Repatriamento de bens culturais que, por motivos diversos, estão fora de seus países de origem está na pauta mundial. Esses bens fazem parte da Identidade Cultural dos povos e a eles pertencem. Segundo o dicionário Aurélio, a palavra “repatriamento” deriva do latim (re + patria) e significa trazer de volta ou regressar para o lugar de origem, terra ou aldeia natal.

O Brasil tem muitos de seus bens culturais apartados de seus verdadeiros proprietários. Outro dia assisti a cena do retorno de uma imagem de um santo barroco à Igreja da qual tinha sido roubada e, posteriormente, vendida a um colecionador estrangeiro. A chegada da imagem causou grande emoção, pois para a maioria das pessoas ela não tem apenas um valor artístico e econômico. A imagem faz parte de sua Identidade Cultural, evocando emoções e memórias profundas.

Objetos naturais e minerais, inclusive os fósseis encontrados em nossas cavernas, são considerados Patrimônio Cultural Brasileiro, pois revelam nossa História e nossas origens mais remotas Atualmente há leis que protegem o acervo fóssil do país proibindo seu envio para o exterior. Mas nem sempre foi assim.

O naturalista dinamarquês Peter W, Lund sofre muitas críticas pelo fato de ter enviado a numerosa coleção de fósseis retirados das entranhas das cavernas mineiras para a Dinamarca. Essas críticas são fruto do desconhecimento do contexto histórico da época e de fatos que aqui relatarei. Não podemos julgar atos do passado com os valores atuais.

Lund enviou sua coleção em 1846 para uma renomada instituição de pesquisa de Copenhague na qual sabia que seria conservada e estudada. Até mesmo os jornais que embalavam os fósseis estão bem guardados na Dinamarca. No Brasil não havia nenhuma instituição preparada para receber tal acervo nem cientistas qualificados para estudá-lo. Lund recebeu financiamento do governo dinamarquês para suas pesquisas em troca do envio dessas coleções para museus e instituições de seu país. Apesar do financiamento ser irrisório perto dos enormes gastos pessoais despendidos nas escavações, Lund se sentia devedor e comprometido com o governo da Dinamarca.

Além disso, não podemos esquecer a realidade da época. Não havia a consciência de Patrimônio Nacional que vemos hoje. A prática dos naturalistas estrangeiros era levarem consigo tudo que coletavam nos países visitados para seus países de origem. Não havia nenhum questionamento quanto a isso.

Lund seguiu essa prática e cumpriu seu compromisso com o governo dinamarquês, porém preocupou-se em deixar parte de seu acervo no Brasil. Doou ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) um crânio característico da raça de Lagoa Santa, quatro maxilares com a dentição para que pudessem ser observadas suas especificidades, dois fragmentos de ossos em diferentes estados de petrificação e uma rocha na qual foram retirados os fósseis. Apesar de reduzida, essa doação era bastante representativa e didática. Lamentavelmente, apenas o crânio sobreviveu ao descaso e disputas entre instituições de pesquisa brasileiras.

Essa doação poderia ter sido maior se Lund tivesse recebido mais rapidamente uma correspondência do IHGB solicitando que lhes enviasse objetos de História Natural para o Museu que estava em formação. A carta demorou meses para vir do RJ a Lagoa Santa e, quando chegou, a coleção de Lund já havia partido para Dinamarca. Compreendo que o envio dos fósseis de nossas cavernas para a Dinamarca foi legítimo, que as atitudes de Lund e dos naturalistas em geral são compreensíveis sob a luz de seu tempo. Chego a ficar aliviada ao pensar que toda essa riqueza ficou tão bem guardada em Copenhague, mas a realidade brasileira é outra hoje.

O Brasil conta com cientistas de ponta e instituições de pesquisa capazes de abrigar acervos de qualquer natureza. É com alegria e ansiedade que aguardamos a inauguração do Centro Receptivo Turístico da Lapinha / Lagoa Santa.



Esse espaço terá atividades educativas, culturais, turísticas e científicas e acolherá parte da coleção de Peter Lund que se encontra na Dinamarca. Os brasileiros poderão, enfim, ter acesso a objetos que contam a História da Humanidade e que foram resgatados tão perto de nós. Será uma emoção o encontro com nossas raízes mais remotas e com objetos que contam nossa História!!!

Os Estrangeiros descobrem Minas Gerais!!!





A atração e adoção de Minas Gerais como pátria por estrangeiros de várias nacionalidades vem de longe!!! O século XIX presenciou uma grande onda de estrangeiros que vieram desbravar as riquezas naturais do Brasil. Apesar dos trópicos sempre despertarem o interesse de aventureiros do mundo inteiro, isso só se tornou possível com a chegada da Família Real Portuguesa no Rio de Janeiro, em 1808. Durante todo o período colonial houve medidas restritivas que impediam a entrada de estrangeiros em solo brasileiro. Procurava-se, desta forma, manter fora do alcance de outras nações conhecimentos acerca das riquezas brasileiras. A suspensão dessas restrições a partir de 1808 provocou uma verdadeira febre de expedições científicas ao país, além da entrada de inúmeros viajantes estrangeiros com finalidades diversas. Muitos deles se dirigiram à Minas Gerais...

Diplomatas, aventureiros, comerciantes, artistas, engenheiros, turistas, missionários e cientistas de várias nacionalidades passaram a percorrer o território brasileiro e difundir em outros continentes suas belezas naturais, populações, hábitos e costumes. Viajantes estrangeiros estiveram na linha de frente das descobertas científicas em Minas Gerais. As entranhas mineiras não revelaram aos seus desbravadores apenas os famosos metais e pedras preciosas. Paisagens exuberantes, fauna e flora imprevisíveis, fósseis que abalaram teorias e inauguraram ciências,... Muitas foram as surpresas encontradas por aqueles que ousaram explorar o sertão das Gerais durante o Império.

As viagens eram desgastantes, imprevisíveis e perigosas. Os viajantes percorriam por meses ou anos regiões inóspitas, desconhecidas e nem sequer mapeadas. Ficavam expostos às doenças, roubos, ataques de animais e índios, intempéries climáticas e às dificuldades práticas de encontrar abrigo, auxiliares, transporte, alimentos e recursos adequados. O encontro com cenário tropical e seus “selvagens” habitantes era surpreendente e, muitas vezes, chocante. Não foi diferente o encontro da sedenta leva de estrangeiros com o sertão de Minas Gerais.

Como já dizia Guimarães Rosa, Minas são muitas. No século XIX a Minas das grandes vilas auríferas do século XVIII e das futuras lavouras de café contrastava com a Minas do Sertão, o reino das florestas-anãs. Foi essa Minas sertaneja que atraiu e fascinou a maior parte dos naturalistas estrangeiros, ao contrário dos brasileiros que, em geral, detinham-se às regiões mineradoras.

O que atraía os estrangeiros não se encontrava nos grandes centros e cidades, mas sim na natureza própria e única da região. As cidades eram vistas como uma imitação mal feita das cidades europeias; já a natureza e a sociedade, como inigualáveis e, portanto, dignas de atenção e estudos.

Virgil Von Helmreichen, Heinrich W.F. Halfeld, Emmanuel Liais, Peter Claussen, Richard Burton, Hermann Burmeister, Francis Castelnau, Henri Gorceix, Marianne North, Louis Agassiz, Eugene Warming, J. Reinhardt, Peter Wilhelm Lund foram alguns desses estrangeiros que revelaram ao mundo as riquezas naturais e humanas das Minas Gerais. Alguns estiveram por aqui de passagem, mas deixaram suas marcas através de estudos, relatos e imagens. Outros sucumbiram diante dos encantos mineiros e viveram durante anos, ou por toda a vida, a pesquisar suas riquezas naturais. O dinamarquês Peter Lund foi um desses e viveu em Lagoa Santa por mais de 40 anos.

Estrangeiros “descobriram” Minas Gerais no século XIX e continuaram a “descobri-la” ao longo dos séculos XX e XXI. Afinal, Minas continua presenteando aqueles que a encontram com riquezas naturais, culturais e humanas de tirar o fôlego.