segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Descobrindo os segredos e maravilhas das cavernas






Vivemos dentro ou nas proximidades do Carste de Lagoa Santa, mas muitos ainda não sabem o real significado disto. O termo Carste é conhecido internacionalmente e caracteriza um tipo peculiar de relevo constituído de rochas calcárias, drenagens e cavidades subterrâneas (cavernas). É uma região belíssima e surpreendente para os amantes da natureza; riquíssima e imprescindível para os estudiosos da trajetória dos seres vivos no planeta.

Desde tempos remotos, nativos e viajantes que passaram por aqui relataram a descoberta de ossadas primitivas no interior das cavernas. Devido ao seu tamanho monumental, acreditava-se que pertenciam a antigos moradores da região da raça de gigantes. Foi somente a partir dos estudos de Peter Lund (1801-1880) em meados do século XIX que ficou constatado tratar-se de fósseis (esqueletos e outras formas de materiais orgânicos preservados) de espécies animais e humanas já extintas. A fossilização é um fenômeno raro, pois o material orgânico só se preserva diante de condições bastante favoráveis que evitam a sua decomposição. Aí está a especificidade e a riqueza da região cárstica em que vivemos: nossas cavernas estão repletas de materiais arqueológicos e paleontológicos em excelentes estados de preservação. Muitas respostas para os maiores e mais antigos questionamentos do Homem sobre sua origem e trajetória na Terra foram e serão reveladas a partir de estudos no Carste de Lagoa Santa.

As expedições e estudos realizados nas cavernas deram origem à Espeleologia: ciência que estuda as cavernas, sua gênese, evolução, povoamento atual e passado, além das técnicas necessárias a sua exploração. Até então as cavernas eram utilizadas como abrigo, local de sepultamento ou ritual, espaço de expressão onde registravam pinturas rupestres, porém os conhecimentos a seu respeito giravam em torno de lendas e mitos. Acreditava-se, por exemplo, que os espeleotemas - aquelas maravilhosas estalactites e estalagmites que surgem do teto e do solo das cavernas formando verdadeiras cortinas naturais - cresciam como vegetais a partir de sementes. A Espeleologia trouxe um olhar cientifico e amplo sobre as cavernas abrangendo uma variedade de conhecimentos como geologia, mineralogia, geografia, biologia, paleontologia, arqueologia, zoologia, turismo e tantos outros. A nova ciência já nasceu com um caráter interdisciplinar e destruiu muitos mitos que cercavam os conhecimentos sobre as cavernas, sem tirar, contudo, seu encanto.

Édouard-Alfred Martel (1860-1938) é considerado o Fundador da Espeleologia Mundial, pois inaugurou estudos das cavernas a partir de métodos científicos. Martel foi também o responsável pela difusão do termo "Espeleologia" e de sociedades espeleológicas pelo mundo.

No Brasil, Peter Lund foi o primeiro a chamar atenção para a importância da preservação e estudo sistemático das cavernas. Alertou o governo e procurou conscientizar a população de que a exploração do salitre nas cavernas para a fabricação de pólvora estava inutilizando importantes sítios paleontológicos e arqueológicos provocando a perda irreparável de informações sobre a origem e evolução do homem, além de destruir belíssimas paisagens naturais. Infelizmente, ignorando o clamor de Lund, a ganância humana provocou ainda inúmeras depredações nas cavernas brasileiras. Ao lado do trevo de Lagoa Santa vemos uma paisagem devastada pela exploração cimenteira. Exatamente ali havia a caverna da Lapa Grande, local onde Lund encontrou os primeiros fósseis do Homem de Lagoa Santa. Esta e outras tantas cavernas foram pelos ares sem nos revelarem seus segredos e belezas!

Minas Gerais é o estado brasileiro com a maior concentração de cavernas. Quantos de vocês conhecem as nossas ricas cavernas cársticas? Não é necessário tornar-se um espeleólogo para descobrir seus encantos. Basta deixar-se fascinar pelos mistérios e belezas do mundo subterrâneo. E prepare-se para grandes emoções, pois como já dizia Peter Lund: "confesso que nunca meus olhos viram nada de mais belo e magnífico nos domínios da natureza e da arte".

Precisamos conhecer para compreender, amar e preservar.

Autora: Ana Paula Marchesotti
Fonte: Revista Condomínios, v. 11, agosto/2008

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