terça-feira, 2 de março de 2010

Bárbaras Mulheres.



Natal é o símbolo máximo da família e me faz lembrar as grandes matriarcas que conseguem reunir em volta de si todos os seus descendentes. Mulheres fortes e guerreiras - muitas vezes de aparência frágil – que agem como verdadeiras leoas ao proteger suas crias e seus ideais. Natal me faz lembrar minha saudosa avó Dalva que como uma estrela nos iluminava com seu amor e sabedoria. Mulheres como ela não defendem apenas os interesses de sua prole, defendem valores e atitudes que nos levariam a construir um mundo muito melhor. São seres humanos raros e, por isso, inesquecíveis!
Muitas mulheres passaram a margem da História Oficial. Sabemos que por muito tempo a História foi escrita por homens que menosprezavam a participação feminina no processo histórico, tornando-as praticamente invisíveis em muitos momentos. É preciso resgatar a história dessas grandes mulheres que, por trás de uma aparente fragilidade e submissão, tiveram participação incontestável e decisiva em momentos importantes de nossa História.
Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira é uma dessas mulheres. Enaltecida em versos de seu marido - o poeta e inconfidente Alvarenga Peixoto - foi muito mais que uma musa. Ousada para sua época, Bárbara foi a primeira poetisa do Brasil, exerceu papel importante nos desdobramentos da Inconfidência Mineira, teve uma filha antes do casamento e, mesmo depois de casada, fez questão de continuar com seu nome de solteira. Após a morte do marido, Bárbara administrou sozinha os negócios da família e cuidou da educação de seus 4 filhos. Sem dúvida era uma mulher admirável!
Bárbara nasceu em São João Del Rei em 1759 e viveu entre a Vila de Campanha da Princesa e São Gonçalo do Sapucaí. Era de uma família tradicional e de grandes posses. Conhecida por sua beleza, cultura e personalidade forte, a jovem Bárbara encantou o Ouvidor recém chegado Inácio de Alvarenga Peixoto. Aos vinte anos, solteira, teve com ele uma filha. Apenas se casaram alguns anos depois e tiveram mais três filhos. Nas freqüentes reuniões em sua casa discutia-se política e literatura e Bárbara participava ativamente das conversas, atitude incomum na época. Parece ter sido a grande incentivadora da participação de Alvarenga na Inconfidência Mineira e, mais tarde, impediu-o de denunciar seus companheiros quando a revolta fracassou e o cerco se fechou. Por isso, é considerada “Heroína da Inconfidência”.
Pela sua participação na Conspiração Mineira, Alvarenga foi preso, degredado para África, teve seus bens confiscados e morreu logo depois em Angola. Aos 35 anos, Bárbara Heliodora ficou viúva, seus bens foram confiscados pela Coroa Portuguesa e precisou criar sozinha seus quatro filhos. Em um de seus poemas demonstrou os valores que procurou transmitir a eles:

“Meninos eu vou dictar
As regras do bem viver
Não basta somente ler
É preciso ponderar
Que a lição não faz saber
Quem faz sábios é o pensar”

Bárbara morreu aos sessenta anos, vítima de tuberculose. Alguns autores afirmam que ficou louca nos últimos anos e que era vista vagando pelas ruas recitando versos. Outros pesquisadores, porém, relatam que a decretação de sua demência foi uma estratégia para escapar das perseguições e do fisco português. Era uma mulher forte e inteligente que usava as armas que tinha para defender os interesses de sua família, sem, contudo, abdicar de seus ideais.

À D. BÁRBARA HELIODORA

Bárbara bela, Do Norte estrela,
Que o meu destino Sabes guiar,
De ti ausente Triste somente
As horas passo A suspirar.

Por entre as penhas De incultas brenhas
Cansa-me a vista De te buscar;
Porém não vejo Mais que o desejo,
Sem esperança De te encontrar.

Eu bem queria A noite e o dia
Sempre contigo Poder passar;
Mas orgulhosa Sorte invejosa,
Desta fortuna Me quer privar.

Tu, entre os braços, Ternos abraços
Da filha amada Podes gozar;
Priva-me a estrela De ti e dela,
Busca dois modos De me matar!

(Poema de Alvarenga Peixoto dedicado à sua esposa, remetido do cárcere da Ilha das Cobras)


Autora: Ana Paula A. Marchesotti

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