segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Imperador do Brasil em Lagoa Santa/MG!!!






“A entrada da povoação foi por entre hastes e ramos de bananeiras, e outras plantas algumas floridas que produzem aprazível efeito” (Diário de D.Pedro II)


Assim o Imperador D. Pedro II descreveu a recepção à sua comitiva na chegada à Lagoa Santa em 7 de abril de 1881. A visita ao então Arraial de Nossa Senhora da Saúde de Lagoa Santa fez parte do trajeto da viagem oficial de D. Pedro II à Província de Minas Gerais. Mas antes de tratar da viagem em si, vamos relembrar um pouco quem foi o Imperador .
D Pedro II foi o segundo e último rei do Brasil. Tornou-se imperador após a renúncia de seu pai, D. Pedro I, e governou o Brasil de 1840 a 1889, quando foi proclamada a República. Foi aclamado Imperador aos 6 anos de idade e assumiu o trono aos 15, após a antecipação da sua maioridade.
Não queremos aqui descrever ou analisar seu longo Reinado. Gostaríamos apenas de ressaltar uma de suas características: D. Pedro II era um intelectual que amava as artes e incentivava as ciências. Esse foi um traço de sua personalidade que guiou muitos de seus atos de governo e que o trouxe a Minas Gerais e Lagoa Santa em 1881.
D. Pedro II criou Museus e Instituições de Pesquisas; financiou trabalhos de artistas e cientistas; fez viagens nacionais e internacionais em busca de conhecimentos históricos, artísticos e científicos. A viagem a Minas Gerais fez parte desta busca do Imperador que assim descreveu as motivações que o moveram:
“Hei de falar-lhe do mais importante da viagem, que promete ser interessante pelo Rio das Velhas, navegável até o São Francisco; mineração de ouro e exame das grutas onde o sábio dinamarquês Dr. Lund, que morreu junto a Lagoa Santa, perto delas descobriu muitos fósseis, entre os quais um crânio humano. Hei também de visitar os lugares dos sucessos da conspiração de Tiradentes e celebrados pelos versos de Gonzaga na sua Marília de Dirceu e de Claudio Manuel da Costa em seu poema de Vila Rica” (Carta de D. Pedro II à Condessa de Barral)
Como se vê, a viagem a Minas teve Lagoa Santa como um dos focos do Imperador e a ciência como norteadora do seu olhar. A viagem pode ser pensada como parte de uma estratégia que conhecer espaços e saberes importantes para o desenvolvimento e modernização do país. Lagoa Santa apresentava-se como um desses espaços por causa da riqueza natural e fóssil de suas cavernas e pelos saberes do naturalista dinamarquês Peter W. Lund (1801-1880) que trabalhou e viveu na cidade por 45 anos.
D. Pedro II sempre se interessou pelas pesquisas de Peter Lund, já que representavam a busca pelas origens da ocupação do território, fundamental para a construção da imagem da Nação que se constituía. Lamentavelmente, o Imperador só concretizou a viagem alguns meses após a morte do cientista, apesar de já estar programada a mais de um ano antes. Foi certamente com tristeza que D. Pedro II recebeu a notícia da morte de Peter Lund em 25 de maio de 1880. Teria sido um encontro memorável!
Mesmo diante desta impossibilidade, o Imperador não retirou Lagoa Santa de seu trajeto de viagem. Ao contrário, enfatizou seu interesse em visitar e conhecer tudo que dissesse respeito ao cientista dinamarquês.
D. Pedro II atravessou as margens do Rio das Velhas na manhã do dia 7 de abril de 1881 e partiu com sua comitiva - em liteiras e cavalos - rumo ao Arraial de Nossa Senhora da Saúde de Lagoa Santa. Foi recebido por autoridades locais e, após o almoço, saiu para conhecer o Arraial. Visitou a casa que pertenceu a Peter Lund, examinou algumas de suas coleções e conversou com seu filho adotivo, Nereu Cecílio dos Santos. Nereu foi educado por Lund, tornou-se um auxiliar em seus trabalhos e foi incluído em seu testamento como herdeiro. O Imperador pediu a ele que redigisse algumas notas sobre o cientista e lhe entregasse juntamente com seu testamento.
Após essa visita, conheceu a escola local e, à tarde, navegou e pescou na lagoa. A noite, conversou com a população local e assistiu a uma apresentação musical de Nereu e sua esposa. Na manhã do dia 8 de abril foi conhecer as cavernas exploradas por Lund, passando por fazendas e engenhos. Conversou com antigos auxiliares do cientista questionando-os sobre seu trabalho, rotina e vida pessoal.
Retornaram a Lagoa Santa no fim da tarde e, após o jantar, registrou suas impressões em seu Diário. No dia 9 de abril, a comitiva de D. Pedro II seguiu viagem para Santa Luzia, mas antes Nereu Cecílio lhe entregou a obra de Peter Lund, alguns livros de sua biblioteca e as anotações e testamento requeridos pelo Imperador. D. Pedro registrou em seu Diário que iria traduzir e publicar toda a obra de Peter Lund, porém só conseguiu realizar em parte seu desejo. Em 1884 e 1885, duas das cinco memórias do cientista foram publicadas nos Annaes da Escola de Minas de Ouro Preto. As demais só foram publicadas na República.
Em sua breve estada no Arraial de Lagoa Santa o Imperador concentrou-se em tudo que dizia respeito ao paleontólogo Peter Lund. Apesar de morto, Lund esteve bastante presente na passagem do Imperador pela cidade que escolheu para viver e ser enterrado.
Podemos imaginar o que significou para os habitantes do pacato Arraial ver circulando pelas suas ruas o Imperador do Brasil e sua comitiva composta pela Imperatriz, funcionários, ministros e jornalistas do RJ. Foram dias memoráveis que merecem ser lembrados!!!

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